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UM OLHAR FILOSÓFICO SOBRE O MÉTODO

Diversas correntes de pensamento discutem a origem da bondade humana: enquanto alguns argumentam que nascemos bons, outros defendem que nos tornamos bons por meio do hábito, e ainda há aqueles que atribuem nossa bondade à instrução. Aristóteles, porém, nos lembra que os dons naturais claramente fogem ao nosso controle, e meras palavras ou instruções não alcançam a todos igualmente. Para ele, o espírito do aprendiz deve ser primeiramente moldado por hábitos que o façam apreciar o que é bom e rejeitar o que é mau, assim como o solo preparado nutre a semente que nele é plantada.

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“É difícil, senão impossível, erradicar por meio de palavras hábitos arraigados no caráter das pessoas” – “De fato, as pessoas vivem à mercê de suas emoções e não dão ouvidos a palavras que poderiam auxiliá-las; quando as ouvem, não as compreendem. Como, então, persuadir alguém nesse estado a mudar seu caminho?” - Aristóteles, Ética a Nicômacos – 1179b

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Esta provocação de Aristóteles e outros filósofos sobre a primazia da prática na aquisição das virtudes humanas levou à valorização de experiências vivenciais como método de aprendizado. Em minha trajetória como educadora, confrontei-me com desafios de aprendizagem não por falta de informação, mas pela ausência de práticas que promovessem a redescoberta e a compreensão do aluno sobre seu próprio lugar e ação no mundo.

Comportamento aprendido é comportamento modificado! Esta deveria ser a norma.

Aprender é vivenciar um processo pelo qual adquirimos modificações em nosso comportamento, seja ele emocional, moral ou intelectual. Há, na capacidade humana, um aspecto superior que engloba a linguagem, símbolos e ideias, culminando na obtenção de entendimento, conhecimento ou sabedoria. Esta reflexão me motivou a explorar métodos e ferramentas que facilitassem mudanças comportamentais efetivas, visando um aprendizado mais consistente e considerando a complexidade do ser humano.

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Aprendizado por descoberta versus aprendizado por instrução?

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Embora o aprendizado por instrução tenha seu valor, ele se mostra secundário em comparação ao aprendizado por descoberta. Este último incita uma conscientização interna, potencializando a vontade do aprendiz em buscar novas descobertas. A vida nos ensina desde o início, sem um manual prático, a aprender com experiências, erros, decepções e revisões.

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Reconhecendo a importância de palavras e instruções, não buscamos excluí-las, mas sim dar seu lugar de direito. Muitos mestres e autodidatas alcançaram sucesso por meio da instrução. No entanto, como Jean Guitton aponta em seu livro – O Trablho Intelectual – “é que vivemos em uma “civilização supersaturada de conhecimentos e meios de conhecer, proporcionando ao homem tantas máscaras e tantos falsos apoios que ele já não distingue entre o que sabe e o que ignora. A prova de que sabemos determinada coisa – disse-o Aristóteles – é o podermos ensiná-la.”  "Observada por Guitton há mais de meio século, essa perspectiva se mantém relevante e se intensifica no contexto atual, com o avanço da internet amplificando seu efeito de maneira ainda mais dramática."

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Meu método, portanto, não se restringe a uma única abordagem, mas engloba diversas estratégias adaptáveis às necessidades do aprendiz, considerando seu contexto para superar obstáculos e maximizar o sucesso na jornada do conhecimento.

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E a arte nesse contexto?

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A arte, em seu sentido mais amplo, representa a técnica e sabedoria aplicadas à criação, seja na medicina, no artesanato ou no ensino. Atualmente, associamos arte às Belas Artes, mas seu valor vai muito além. A arte possui o poder de transformar o ser humano, não apenas em sua capacidade produtiva, mas também em seu caráter virtuoso.

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Mergulhei nas questões que envolvem a relação entre o artista, sua obra, e o impacto deste sobre nós, procurando entender o porquê de nos sentirmos tão tocados por belas obras de arte. O que há no processo criativo que nos afeta tão profundamente, provocando emoções, espanto, alegria e despertando em nós a aspiração à excelência? Quais são as técnicas que os artistas empregam para alcançar tão profundamente nossas almas? Como a arte é percebida em todas as suas formas - prática, especulativa, contemplativa e intelectual? Por que as artes afetam tão intensamente nossos sentidos, tanto emocional quanto intelectualmente?

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Essas perguntas me levaram a descobertas significativas, sobretudo sobre o poder da arte de transformar o ser humano de maneira mais profunda do que qualquer outra forma de conhecimento.

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A arte se revelou uma aliada indispensável no processo educacional, proporcionando um ambiente disruptivo de aprendizado que permite ao indivíduo explorar aspectos de si até então desconhecidos ou ignorados, por medo, rejeição, ou simplesmente ignorância. Ela desperta a criatividade, motivação, autoestima, amplia o autoconhecimento, explora potenciais e lapida virtudes morais e intelectuais.

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O método que proponho envolve etapas que são verdadeiras passagens, fases necessárias para que o aprendizado se concretize. A arte enriquece essas experiências, cumprindo um papel fundamental ao tocar o âmago do comportamento humano e extrair o que ele tem de mais essencial.

 

No entrelaçamento das ideias de Aristóteles, Guitton e Mario Ferreira dos Santos, meu método V.E.R (Vivência, Exame, Redescoberta) emerge como uma síntese que abraça a complexidade do ser humano. A Vivência nos introduz ao mundo através de experiências concretas, onde o conhecimento não é apenas absorvido, mas sentido e vivido. No Exame, somos convocados a refletir criticamente sobre essas experiências, identificando nossas virtudes e fraquezas, num processo que ecoa o ethos aristotélico de moldar o espírito pelo hábito. E na Redescoberta, somos impelidos a transcender, a revisitar o aprendizado com uma nova visão, uma transformação que a arte facilita ao nos conectar com a essência da alma humana.

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Através desse método, o aprendizado transcende a mera instrução e se torna um convite à metamorfose pessoal, onde cada passo é uma oportunidade para cultivar o solo interior e florescer no conhecimento, no caráter e na criatividade. Assim, como um artista diante de sua tela em branco, cada indivíduo é chamado a pintar sua jornada única de aprendizado, moldada por hábitos virtuosos, enriquecida pelo exame crítico e iluminada pela redescoberta através da arte.

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Carolina Romanzini, com sua experiência, convida cada um a embarcar nessa viagem transformadora, onde a educação se torna uma obra de arte viva, e onde cada aluno, como um artista, revela e aperfeiçoa a sua obra-prima interior. No método V.E.R, encontramos uma ponte entre a filosofia e a prática, entre o conhecimento e a sabedoria, e entre o ser humano e a arte, caminhos esses que conduzem ao mais profundo entendimento de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.

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